Corpo. Porção de mim no todo vazio. Oco.
Copo. Porção de vinho. Em mim. Assim.
Em mim. Um pouco de todo o resto. Nada.
Todo o eu. Assim. Um copo. Oco. Vazio.
A unha não gruda na parede. Nem sustenta o peso do
corpo que sofre. Arranha apenas a superfície do corpo. Que prende. Repreende.
A unha não rasga nem fura essa estrutura. Idêntica. Cara.
Meu rosto que é o teu. Que é o nosso. Único rosto. De sorriso triste. De olhos
desligados. Não, a unha não salva, nem solta. Nem defende a unha. Arranha apenas.
Recusa, renega, reclama.
A unha reclama na parede do corpo. Reclama com
fúria, em linhas de sangue. Os caminhos pra fuga. Pra festa. Pro vôo.
Mas o corpo não deixa. O corpo e seu peso. Sua ordem.
Organismo. Cinismo do rosto. Estrutura. Consumação das paredes. A altura do
muro.
Um murro? Nem murros nem unhas. Profunda e ancestral
é a construção. Identidade, atitude, tradição, memória... Cimento duro.
Então vinho para regar o corpo que chora...e prende.
Álcool pra encantar a estrutura que oscila. Drogas pra amaciar a fúria do
corpo, seus limites, suas esquinas escuras, seus espaços frios suas
masmorras...
Roupas pra cobrir a vergonha do corpo. Panos pra
encobrir. Panos para produzir o próprio corpo. Muitos panos para a nova
estética, para a produção do novo rosto. Cores também para alegrar e colonizar
o corpo.
Marionete. Fantoche. O corpo dança a valsa que ouve
e acredita. E no fundo. No vazio. Eu. Ou nós. E o oco do copo. E o vazio.
Então que venha a palavra. Que lavra o terreno
baldio. Frases, vírgulas, verbos. Letras! Escreva, fale, comunique.
Repita o eco. Cante o refrão. Sorria! Abrace o
irmão. Aceite...
Mas nas paredes do corpo, nas profundezas do
corpo... unhas....