Parece-nos clara a tendência de Deleuze em afirmar a vida como
princípio de novidade e da diferença, ou seja, como novidade, como devir, vir
a ser heraclitiano, movimento e, acima de tudo, “diferença vital”.
Sendo assim, é uma
recorrente na pedagogia rizomática o apoderamento dinâmico e potente,
sobretudo atual, das filosofias de Nietzsche e Deleuze. É uma constante no
interior do texto em questão o ir e vir, como a imagem da maré ou a de um rio
do pensamento vital de Nietzsche.
“A pedagogia rizomática, neste sentido, trabalha sempre com o novo.
Eis, pois, toda a sua dinâmica: o que é(a memória) dá lugar ao que não é
ainda(o novo, que implica o esquecimento). O novo é o devir, é o por vir. Nem
genealogia, nem raízes: rizoma, abertura para a imanência, num eterno retorno
em que o que retorna são os blocos de diferença em forma de devires. É o
próprio real que aparece como produção do novo, o que supõe uma passagem do
agente – itinerante, por definição – por uma experiência singular. O novo,
cuja força maior é seu caráter primitivo ou imediato da novidade, ora posto
pela experiência, ora pelo ser, não significa que ele se apresente
espontaneamente nem que seja reconhecido imediatamente como tal pelo
pensamento, mesmo porque o pensamento, muitas vezes dependente da opinião, é
impotente para acolher o novo”(Lins, 2005, p. 11).
Segundo Deleuze, o
novo começa quando rompe com a opinião e reivindica a criação de valores
novos através da análise da imagem do pensamento, que é eminentemente
filosófico.
Um outro aspecto interessante
que gostaríamos de separar no universo textual de Daniel Lins, embora seja
consequência de uma pedagogia rizomática e da escola mangue até aqui
apresentados, tão somente advindo das ramificações que não se prendem em
nenhum território porque desterritorializa, desprende-se o tempo todo,
move-se em sentido pivotante, no dizer de Deleuze(Deleuze & Guattari,
2000, p. 15), a exemplo de uma batata desenraizada ou de um mangue que flutua
na água, é de tal modo, a pedagogia dos platôs. “Um platô está sempre no
meio, nem início nem fim. Um rizoma é feito de platôs(...). Chamamos platô
toda multiplicidade conectável com outras hastes subterrâneas superficiais de
maneira que formem e estendam um rizoma”(Deleuze & Guattari, 2000, p.
33).
Possivelmente, em decorrência
da bela imagem do manguezal, bem como da fundamentação rizomática deleuziana,
desencadeando-se no texto uma pedagogia rizomática e uma pedagogia dos
platôs, observa-se uma interação destes conceitos com a pedagogia das escolas
atuais no que tange a aprendizagem, o aluno, o ensinar e a instituição como
um todo. Como elaborar, afinal, ou produzir um Programa/Projeto que se
aproprie das ideias desencadeadas a partir da noção de devir, rizoma,
embutidos nos conceitos filosóficos de Gilles Deleuze?
“É porque a Escola coabita com diferenças e singularidades que alguns
podem adaptar-se à moral do rebanho; outros devem ter o direito de se rebelar
contra um modelo pedagógico pleno de boas intenções, mas estrangeiro às
multiplicidades. O programa – oposto do rizoma – impõe a todos a obediência
às setas e indicações. O projeto, diferentemente do programa, experimenta,
desconfia das verdades pedagógicas ‘verdadeiras’. Embora o programa tenha sua
importância em todo projeto educativo, ele é apenas um instrumento cooptado
pelo provisório, molar, identitário”(Lins, 2005, p. 17).
Com a noção
inovadora de Programa/Projeto proposto por Daniel Lins, em virtude do que já
dissemos até então, defende-se dois novos horizontes para a pedagogia, que
são: a pedagogia molar e a pedagogia molecular.
“Molar é aqui compreendido não como separação ou oposição. De fato, se
é verdade que o molar delimita os nós, os laços, a arborescência, o molecular
une-os numa desunião criativa instauradora, inclusive, de possíveis alianças.
Atravessado(molar) e atravessador(molecular) celebram núpcias com
intensidades singulares e diferenciadas, num movimento permanente de
contaminação, dissidência e resistência, sob o signo de linhas de fuga e
agenciamentos maquínicos, que conduzem um futuro sem devir e estruturas
arborescentes para devires múltiplos, multiplicadores”(Lins, 2005, p. 03).
Isto posto, o que
se vislumbra numa pedagogia molecular é o fato de, perfeitamente, ser
rizomática. Trata-se de uma pedagogia da desconstrução e da diferença, como
também da singularidade. Uma pedagogia que não trabalha com formas, mas com
encontros nômades, desejos, encruzilhadas e bifurcações.
In: LINS, Daniel. Dossiê:
“Entre Deleuze e a Educação”. In Educ. Soc. Vol. 26. nº 93. Campinas. Sept./Dec. 2005.
Prof.: Jackislandy
Meira de Medeiros Silva
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