Há um olhar configurado. Moderado. Um
olhar razoável. Já sem grande brilho nem imagens outras. Olho que vê sem ver.
Olho que percebe sem perceber. Olho de ver a imagem comum. Olho de opacidades
definidas. Olho de falar e dizer o dizível. Olho .
Há uma forma de ver pesado. Solidez.
Olhar de chumbo. Visão de construir muros. E de atrás destes aconchegar-se.
Bastar-se. Olho de morrer nos cantos. Falecer.
Há um olho de recortar rostos. De
procurar rostos, de escolher rostos. Iguais e mesmos. De excluir também.
Tolerar outros. Olho de aceitar o rosto coletivo. Olho de cortar na carne o
rosto definível, o rosto aceitável. Olho de padronizar o próprio olho.
Olho que morre no achar-se sábio. Olho
que sufoca na concretude de um saber que já não é processo. Saber-estátua. Olho
triste que sorri engraçado. Engraçado olho que sorri e é triste. Olho de ver
reflexo.
O buraco da parede não é janela. É
defeito e problema. Tijolo, cimento. Cego o muro novamente. Proteção.
Contenção.
Olho que não arrisca. Nem risca no muro
outro desenho que não seja seu próprio olho. Olho de não delirar em cor ou
forma. Olho de não inventar palavra e frase. Olho de aceitar.
Olho submisso às imagens, que, como
migalhas, lhe são jogadas. Empanturrar-se delas. Diarreia de imagens mesmas.
Olho de não proferir palavra outra. Olho
de não devorar o indevorável. Olho de
apenas não ver.
Talvez fechar. Cessar esse olho. Apagar
a imagem desse olho triste.
Desejar as imagens outras, para além daquele ver? Imagens que flutuam no insondável da
imaginação e da criação, da realidade e dos encontros que fazemos. Agenciar
relações, sentidos, forças, cores, corpos. Atravessar um no outro.
Olho de experimentar vida. Olho de
devorar o vivível. Intenso. Vibrante.
Olho de “transver” o mundo. Olho do chão
e de sua matéria. Barro.
Ronie Von Rosa Martins
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