Escrever?

"Escreve-se sempre para dar a vida, para liberar a vida aí onde ela está aprisionada, para traçar linhas de fuga" (Gilles Deleuze)

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Sobre como parar em esquinas



 Há uma música que é só minha. Cérebro – fora o silêncio da rua. O silêncio singular do caos. E um vento. Sopra razoável, rosto, cabelo, terra. Movimento. A carne e o metal disputam os fluxos. Da rua. Ir e vir e estar. Cadáveres de metal esperam a carne, zumbis mecânicos. Devorar a carne humana e seus desejos de mobilidade. Necessidade.
As cores alternam passos e rodas, tudo borracha no asfalto. Largos os passos. Rápidos os espaços de não ficar.
Um aceno. O rosto conhecido me arranca do texto e do asfalto. E passa. Sua vida, tempo e espaço. Eu fico. Finco meu corpo nesta esquina. Imóvel corpo. Estranho aos que escorrem nesse fluxo. Olhos buscam o meu texto. Mas sou eu. O texto. Os pés e os carros minhas palavras. E tudo é símbolo. E som e ritmo.
Por cima a conexão. A aranha tece sua trama. Fios, linhas de relacionamento. E o vento agora. Não há sol. Nublado. E os corpos não param de deslizar na minha imobilidade. E mesmo sozinhas eles se conectam. Músicas escolhidas embalam passos e pernas; o “outro” no ouvido. O fantasma do outro sempre ao lado. Esquizofrenia.
Os óculos escondem os olhos. Só a lente. Esteticamente as lentes. “E eu... gostava tanto de você...”.
Caso certo, interessante. Escrever na rua não é algo comum. Deveria. Sim. Comum é o carro. O zumbi mecânico. E o cão. Rebelde e sujo. Vários. Contrastam com fluxo mecânico. Língua de fora. A língua deve estar fora. Fugir da grande boca gramatical.

Nos corpos as roupas todas, e penduradas nele às bolsas, sacos e sacolas de carregar “coisas” para o corpo. A bagagem do corpo. A maquiagem do corpo. A identidade do corpo. A comida do corpo. A diversão para o corpo. Também há os espaços de guardar e depositar. O corpo e seus desejos. E há as possessões de um corpo pelo outro. A mão segura o outro, afeto e posse. Segurança e controle. Há um contrato. A relação constituída. A experiência dos corpos. Correr e caminhar... é mais que meio-dia e lá vai... o meu corpo no fluxo de todos os outros corpos...


Ronie Von Rosa Martins

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