Da distância de onde sempre estava
olhou. Olhava sempre com o nada entre. Gostava de tê-lo como meio. O meio.
Entremeio. As proximidades demasiadas o angustiavam. O contato da fala.
Enroscar seu próprio verbo com o de outrem. Articular respostas e propor questões.
Preferia aqueles espaços de leve borramento. Sim, como se nada conseguisse
muita definição. Como se as linhas investissem-se de imprecisão. Como se o
mundo ameaçasse apagar-se. Preferia assim.
Não ao calor do corpo. A sensação
dele. O corpo sempre vinha com a alma, a
religião, o mercado o capital. Era tudo. Inclusive nada. Preferia esse. O
singular nada em que existia.
Não era visto ou notado. E para seus
olhos os outros eram sombras. Movimento indefinido. Fantasmas. Estaria
dormindo? Morto?
Que diferença faria?
Não esperassem o choro. Não era disso.
Essas coisas dos espíritos fracos e carentes. Gêmea-alma. Romance.
Longe trilhava. Seco. Frio. Frio? Não.
Não tinha a ver com essas dicotomias simplórias entre as temperaturas. Apenas
não se sentia tocado pelas forças que moviam estas coisas. Sexo. Sexo era outra
coisa. Necessidade. Mas nunca uma
prioridade. O cérebro cogitava outros tipos de prazeres. Seria realmente
prazer? Achava que não.
Existir, só isso. Era assim que ele via.
Estátua de pedra. A forma esculpida. O sentimento na forma. Leão, anjo,
gárgula. Pedra. E a forma tinha sonho, força, poder. E era só pedra. Ele era
carne. Só carne. Como a pedra. A substância. O material da forma.
Amigos não precisava. Nem queria. Ouvir
era uma coisa impossível. Ouvir sobre os
amores e dores, rir e brincar? Não. O tempo era a única distração.
Observar as rugas do mundo encobrindo
todas as carnes e a aflição de alguns sendo cobertos por essas ranhuras. O
brilho dos olhos se perdendo. O tempo moendo as carnes, engolindo pedaço por
pedaço da juventude das gerações.
Observar a vida nascendo e morrendo.
Girando. Vibrando e cessando.
A terra e o túmulo e o buraco bem fundo
e a dor e a lágrima e os passos indo e vindo e o silêncio.
Estátua. Seria?
Os pássaros voavam alto. Odiava pombas.
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Ronie Von Rosa Martins
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Ronie Von Rosa Martins
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